‘Dificilmente teriam oportunidade’, diz jovem que ensina a deficientes visuais
Isabelle, 18 anos, dá aulas gratuitas de inglês para 10 alunos, em Garanhuns.
‘Não há limites quando se quer aprender’, afirma a tia, que é aluna
Aos 18 anos de idade, Isabelle Vita tem a rotina dividida entre aprender e ensinar. Durante a semana – no período noturno – ela cursa o segundo período de Direito em uma faculdade particular de Garanhuns, no Agreste pernambucano. Aos sábados ela se dedica a lecionar em um curso de inglês para deficientes visuais no mesmo município. Isabelle ministra aulas de forma voluntária para uma turma de dez alunos no Centro de Apoio Pedagógico à Pessoa com Deficiência Visual (CAP).
A jovem professora conta como se sente ao dar as aulas e o que a motiva a seguir com este projeto. “Para mim está sendo muito bom e prazeroso dar aulas no CAP. Sei que se eles [deficientes visuais] procurassem cursos [de inglês], dificilmente teriam oportunidade. E constatar que eles realmente estão aprendendo é muito gratificante. Percebi que muitos dos meus alunos já estão entendendo o idioma, inclusive alguns falam algumas frases em inglês”, disse Isabelle.
As aulas de inglês do CAP tiveram início em agosto deste ano e – de acordo com Isabelle – a expectativa de duração do curso é de seis meses, mas há a possibilidade de ser prolongada. Ela explica que o foco das aulas é a conversação, devido à deficiência dos alunos. “Primeiro falo para eles a palavra em inglês, depois eles escrevem como entendem. Então, mostro o modo correto e depois eles escrevem em português, a fim de captar exatamente o que está sendo dado. Uns escrevem em braile e outros usam o computador”, detalhou Isabelle.
A ideia do curso surgiu em um projeto idealizado por Isabelle na faculdade. O convite para lecionar no CAP veio por parte da gestora do órgão, Lenice Couto, que é deficiente visual e tia da jovem professora. “Realizar essas aulas aqui é uma forma de promover a autonomia das pessoas cegas e com baixa visão. Cada desafio que enfrentamos é sempre vencido quando somos oportunizados. Não há limites quando se quer aprender. É preciso que a sociedade compreenda que a visibilidade tem que ser na pessoa e não na deficiência”, afirmou a tia.
Lenice também destacou que a realização deste curso é um passo a mais na luta contra o preconceito. “Antes de sermos cegos, somos pessoas. Cursos como esses fazem com que nós andemos na contramão do grupo de pessoas que pensam que não podemos nada. E assim, nós vamos enfrentando desafios e vencendo os preconceitos”, ressaltou. Ela também disse que aproveitou a oportunidade para aprender o novo idioma. “Além de tia, agora sou aluna de Isabelle. Não podia deixar de aproveitas essas aulas”, brincou.
Intercâmbio
Isabelle Vita morou em Tourbay, localizada na província de Newfoundland – no Canadá -, entre agosto de 2013 e janeiro de 2014. Ela participou do Programa “Ganhe o Mundo”, criado pelo Governo de Pernambuco, para estudar em outro país. “Esse tempo que passei fora do Brasil foi um período de grande aprendizado”, disse.
Fonte: G1