Em Alagoas, atleta com Down conta como se tornou recordista no México
A cada dia o esporte dá provas que na vida não há limites. Um belo exemplo de superação é o nadador Edson Luis Passadore Neves. Apesar de ser portador da síndrome de Down, o atleta de 37 anos conquistou quatro medalhas no 7º Mundial de Natação Dsiso, realizado no ano passado em Morélia, no México. Além das medalhas, ele ainda bateu três recordes mundiais e cinco das Américas.
Na categoria Master T-21, ele detém os recordes mundiais nos 100 e 200 metros peito e nos 200 medley. Nas Américas, Edson carrega os melhores resultados nos 100 livre, 50, 10 e 200 peito, além dos 200 medley.
Paulista de nascimento, Di, como é carinhosamente chamado pela família, tem fortes ligações com o estado de Alagoas. O pai do atleta era alagoano e chegou a ser membro da Associação dos Cronistas Desportivos de Alagoas (ACDA).
O gosto pelo esporte sempre esteve presente na família Passadore. E a motivação para que Edson desse as primeiras braçadas começou quando ele tinha apenas três anos de idade. Grande incentivadora do primo, Fátima Pinto conta como iniciou essa paixão de Edson pele esporte.
– Ele começou levando a irmã nas aulas de natação e lá começou a praticar. Todas as vezes que vinha a Maceió ele fazia aulas na minha academia. Durante as férias, ele nadava todo mês de janeiro aqui e desenvolveu esse gosto pela natação. No entanto, sempre praticou vários esportes.
Orgulhosa com o desempenho do primo dentro e fora d’água, Fátima destacou que o maior incentivador da carreira vitoriosa do nadador foi o pai de Edson.
– Eu tenho muito orgulho dele. É um primo que eu tenho como um filho, eu dei um incentivo grande na parte da natação. mas o grande incentivador foi o pai dele, que o incentivou a praticar basquete, karatê; enfim, todos os esportes que ele teve oportunidade, praticou.
Ela ressaltou ainda que Di é também uma pessoa que esbanja disposição e ressalta que ele é uma verdadeira lição de vida para todos.
– Hoje com 37 anos, ele parece um garoto de 20. É saudável, cheio de disposição e trabalha normalmente numa academia. Isso é uma lição de vida para as pessoas que têm filhos com síndrome de Down e veem que eles têm muitas possibilidades a serem desenvolvidas e podem participar ativamente da vida social como qualquer outra pessoa – salientou.
Mesmo curtindo as férias em Alagoas, Edson não dá trégua e cai na água todos os dias. Ele falou com o GloboEsporte.com e disse porque gosta de estar na terra do pai.
– Gosto muito de estar aqui porque eu fico junto à minha família, gosto de estar com meus primos. Aqui treino todos os dias na piscina e no mar – disse, empolgado.
E a alegria de estar na água é uma constante na vida de Edson Passadore. Ele revelou que quando está em São Paulo treina de segunda à sexta.
– Treino segunda, quarta e sexta de seis às sete e meia no centro olímpico. Já nas terças e quintas, pratico natação de doze até uma e meia. Pra mim, a vida tem que ter natação. Sem natação não dá.
O nadador falou também sobre a alegria de chegar ao Mundial no México e contou que avisou a mãe que seria campeão batendo recordes.
– Foi muito treino para chegar no Mundial. Eu falei pra minha mãe que um dia eu ia bater o recorde. Vou continuar batendo recorde. Eu me sinto orgulhoso de ser o que sou hoje. Tenho muitas medalhas e sou muito feliz.
Se o nadador está feliz, mais feliz ainda está a mãe. Como não poderia deixar de ser, Vanda Passadore não esconde a satisfação e o orgulho que tem pelo filho campeão. Ela revela que não acreditava que o rapaz conseguiria chegar tão longe.
– Ele é uma pessoa muito dedicada, não falta aos treinos, treina com muito rigor e se esforça ao máximo. No ano passado, ele me disse que iria bater o recorde. Eu fiquei meio sem acreditar, mas disse a ele: “Você vai conseguir sim, meu filho”. E esta conquista foi uma surpresa maravilhosa para todos nós – disse, emocionada.
No entanto, a mãe de Edson afirma que o começo dos treinamentos do filho não foi tão fácil. Ela conta que foi preciso muita persistência para vencer o preconceito.
– Ele ia acompanhar a irmã na aula de natação e sempre queria entrar na água. Mas naquele tempo era muito difícil. Havia muito preconceito e as escolas não estavam preparadas. Ele chorava, dizia que queria e daí eu fiz um acordo com o dono da escola – lembrou, contando como foi o período de adaptação.
– O meu filho ia fazer um período de adaptação para sabermos como seria o comportamento dele. Depois de um mês, o professor viu que ele tinha condições e continuou. Aos poucos ele foi evoluindo e começou a participar das competições. Até 2010, ele só participava de campeonatos internos e a partir daí começou a participar de competições internacionais. Com isso, foi desenvolvendo e cada vez ele queria e continua querendo melhorar.
Por fim, Vanda fez questão de deixar um recado para as famílias que têm pessoas com limitações. Ela garantiu que basta acreditar e dar oportunidades que eles conseguirão mostrar suas habilidades.
– O meu filho é um orgulho e pode ser visto como exemplo. Digo aos pais das crianças que têm certas limitações que acreditem nelas porque são capazes de tudo. Basta dar as oportunidades e muito amor. A gente tem que mostrar pra eles que no mundo Deus faz cada dedinho diferente um do outro. E assim é a vida. É preciso ensinar também os limites e a capacidade deles no esporte, dizendo que a gente precisa saber ganhar, mas é necessário saber perder também – concluiu.
Fonte: Globo Esporte