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Na garra: baiana atravessa Baía de Todos os Santos com um braço só

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Qual o limite do ser humano? Dia após dia, exemplos e mais exemplos demonstram que uma pessoa é capaz de ir até onde sua vontade determina. No caso de Verônica Almeida, é melhor não tentar mensurar essa dimensão. Aos 39 anos, sem o movimento das pernas e sem mexer o braço direito, ela atravessou a Baía de Todos os Santos, entre a localidade de Mar Grande, na Ilha de Itaparica, e a praia do Porto da Barra, em Salvador a nado na manhã desta segunda-feira. Mais de 12 quilômetros de travessia no estilo borboleta – com apenas um braço – em 4h56m, de acordo com a organização do evento. O suficiente para entrar no Guinness Book, o livro dos recordes.

Em uma manhã de sol em Salvador, a praia do Porto da Barra estava cheia. No meio de quem aproveitava o ambiente, amigos, familiares e curiosos. Todos gritando e quase que puxando a atleta.

– No final eu senti muitas dores, mas vi o pessoal na areia, lembrei de minha família e coloquei na cabeça que não poderia desistir. Em plena segunda-feira e a praia cheia. Recepção maravilhosa. Não poderia ser melhor. Realmente estou muito feliz. Eu imaginava que estaria cheio, mas não tão cheio assim, queria muito chegar porque sabia que teria uma recepção assim. Desde ontem eu não dormi. Foi um desafio que surgiu e achava que era impossível. Na época que eu quis fazer disseram que era impossível e eu sempre disse que é impossível até tentar. Depois do Guinness é se preparar para 2016 – disse Verônica, que nem aparentava feito tamanho desafio.

O tempo de conclusão da prova foi duas horas abaixo do estipulado previamente pela organização. Os treinadores creditaram o encurtamento da prova à força da nadadora. O técnico da seleção Brasileira Paralímpica de Natação, Alexandre Vieira, lembrou que a garra dela foi o principal durante a travessia.
– Fomos nos aproximando da chegada e ela sentindo muita for. A galera que trouxe ela aqui. Teve um momento que achei que seria muito difícil, mas antes da prova, lá na areia, ela me falou: “Por favor, não me deixa desistir”. E não deixamos – comentou Vieira.
Nadadora desde os cinco anos, Verônica recebeu há quase uma década uma das piores notícias de sua vida. Ela foi diagnosticada com um distúrbio hereditário do tecido conjuntivo, a Síndrome de Elhers-Danlos, doença degenerativa e progressiva, ainda sem cura. Por conta da doença, ela não tem os movimentos nos membros, o que fez com que seu treinador classificasse como impossível a travessia na Baía de Todos os Santos.

Mas a baiana mostrou que o impossível para ela não existe. Foram seis barcos de acompanhamento – entre eles uma ambulância e uma embarcação com a equipe que produz um documentário sobre a vida dela: Quebra Mar. Além deles, quem também esteve ao lado da paratleta foi Fernando Fernandes, campeão mundial de paracanoagem. Durante a prova, nada de pensar em não chegar no Porto da Barra. O único medo vinha do desconhecido da escuridão do fundo do mar.

– Eu sabia que a maior dificuldade que iria encontrar era justamente o medo. Eu tenho muito medo do mar. Na largada eu senti aquele desespero e não sabia o que realmente poderia acontecer. Quando foi se aproximando um barco grande o medo começou a aumentar, mas aí eu comecei a me concentrar e pensar: “Não, você tem um objetivo muito grande, que é entrar para a história e entrar para o Guinness. Você vai ter que passar por isso”. Aí deu – comentou emocionada.

TRATAMENTO ESPECIAL

A doença detectada há nove anos não foi o fim do mundo para Verônica. Mesmo com as limitações do corpo, ela continuou firme no esporte. Desde 2007 são 87 medalhas de ouro, duas de prata e dez de bronze em 35 competições internacionais. A mais importante delas é o bronze olímpico de 2008. Além disso, recebeu por duas vezes a premiação de melhor atleta da natação pelo Comitê Paralímpico Brasileiro.

Para realizar a travessia desta segunda, ela se preparou por um ano. Mudou-se para Uberlândia e acrescenta atividades fora da piscina ao treinamento. Entretanto, o máximo que nadou diariamente até hoje havia sido dez quilômetros. No desafio, foram mais de 12 mil metros.

A luta da nadador, no entanto, não acontece somente na água. Verônica faz parte de um tratamento experimental e está no oitavo dos dez anos da pesquisa. O avanço da doença tem sido estabilizado e a dor é controlada por medicação. Ainda esta semana ela viajará para Paris, onde dará continuidade ao processo.

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Fonte: Globo Esporte

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