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Cegos ou cadeirantes, o esporte integra todos

Por meio do esporte, pessoas com deficiência descobrem uma nova maneira de viver e encarar a vida. De quebra, surgem as medalhas

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Há três anos, a rotina semanal é mantida na Academia AMK, no bairro Água Verde, em Curitiba. Uma dezena de atletas chega para treinar esgrima no meio da tarde – alguns são cadeirantes, outros usam muletas. O bicampeão de esgrima em cadeira de rodas Clodoaldo Lima Zasatoski, 29 anos, é um deles. Pioneiro no esporte, ele conta que é o único da equipe que tem mobilidade reduzida desde que nasceu, fruto de uma má-formação genética, e que os demais foram prejudicados por acidente de trânsito.

O desafio do grupo é chegar a 30 integrantes e levar a prática a outros municípios do estado. Em Curitiba, o espaço é cedido pela academia e o treinador trabalha voluntariamente, mas os custos com equipamentos são altos. “A esgrima é um dos esportes mais caros. Uma espada pode custar de R$ 300 a R$ 500 e tem também a roupa para treino, mas conseguimos apoio da prefeitura. Temos ajuda para a compra de alguns materiais e para as viagens”, conta Zasatoski, que é um dos diretores da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP). O apoio também vem dos esgrimistas que treinam à noite no mesmo espaço – chamados entre eles de “convencionais”, por não terem deficiência.

Golfe

A integração dos atletas também ocorre na Asso­­ciação Atlética Banco do Brasil (AABB), onde o professor de Educação Física Anselmo Franco da Silva treina crianças e jovens com deficiência intelectual. O golfe adaptado é montado no espaço, o atletismo ocorre no campo de futebol e os horários das piscinas são intercalados entre os jovens, o que rende encontros no entra e sai da água.

Fora dali, os alunos de Anselmo frequentam bosques, universidades, algumas escolas e clubes. “Faz falta ter estrutura para os treinos em todas as modalidades. Há quadras em que não é permitido o uso por cadeirantes, pois os pneus podem riscar o chão. Mas, principalmente nas escolas especiais e regulares, precisávamos ter espaços adequados”, diz.

As universidades também têm sido procuradas como forma de tentar contornar o problema da falta de estrutura. O goal ball, por exemplo, é praticado por deficientes visuais na Uni­­versidade Tecnológica Fe­­de­­ral do Paraná (UTFPR) e na Faculdade Opet. O técnico Altemir Trapp diz que o grupo conta com 25 participantes, de 12 a 58 anos. “A evolução de quem pratica é muito rápida, com melhora na interação e início de uma vida mais ativa”, conta o treinador, que recentemente foi chamado para comandar a seleção brasileira da modalidade. O time foi campeão na última edição dos Jogos Aber­­tos Paradesportivos do Paraná (Parajaps), assim como a equipe curitibana de esgrima.

Apoio da família é fundamental

Kele Cristine Contente, 28 anos, descobriu na Escola Alternativa, onde estuda até hoje, que levava jeito pra o golfe. Com o incentivo da família, recentemente ela viajou pela primeira vez para competir nos Parajaps, em Londrina. Voltou com medalha de ouro e disposição renovada para continuar os treinos. Segundo a mãe dela, Ivete Contente, a jovem se transformou depois que começou a praticar atividades físicas – além do golfe, Kele, que tem deficiência intelectual, também treina salto em distância, corrida e beisebol. “Ela ficou radiante com a premiação. O esporte a ajuda a assumir mais responsabilidades, ela se sente muito importante e feliz”, conta Ivete.

De acordo com a professora da rede estadual Evelyn Bettinelli Romualdo Sabadin, que se especializou em Educação Física Adaptada e trabalha na Escola Especial Primavera, os esportes contribuem na formação do aluno como cidadão. “Mesmo praticando esportes individuais, ele aprende a conviver em grupo, ter responsabilidades, reconhece que tem valor, mesmo quando não ganha uma medalha”, diz.

Equipe afinada

O gostinho de ser campeão também foi experimentado por Felipe Sista, campeão na bocha em 2013 nas Paralimpíadas Escolares em São Paulo. O jovem de 17 anos, que sofreu paralisia cerebral, começou a praticar o esporte ano passado, mas não se vê mais sem os treinos que ocorrem ao menos três vezes por semana no câmpus Jardim Botânico da UFPR. A mãe de Felipe, Noeli Navarete Sista, é a motorista do dia a dia de treinamento e, para as viagens de competição, quem assume é o pai. “Se ele fica em casa não tem o que fazer, só fica no computador e não tem motivação. Mas quando tem treino fica feliz, a gente vê a diferença”, conta Noeli.

No time de Felipe há pessoas com deficiência física que vai de distrofia muscular à tetraplegia. A equipe existe desde 1998 e, desde 2002, é treinada pelo professor Darlan França Júnior, que já foi técnico de diversas modalidades de esportes adaptados. “Ainda sobra muita gente com deficiência em casa sem fazer nenhum esporte. Algumas precisam ser convencidas que podem continuar vivendo na sociedade e o esporte permite isso”, defende.

Fonte: Gazeta do Povo

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