Deficientes visuais vão acompanhar a Copa com narração áudio descritiva
Restando poucos dias para o início da Copa do Mundo cresce a expectativa do público para assistir aos jogos. Mas nem todos têm esse privilégio. Pensando nos deficientes visuais, uma equipe com 16 integrantes está passando por um treinamento para oferecer uma narração voltada a essas pessoas. Ao contrário do que se imagina, que o rádio presta esse serviço, a narração áudio descritiva dá mais elementos para que os deficientes visuais possam compreender a partida.
– Para mim, a forma como as narrações de rádio são feitas ainda é voltada para as pessoas que enxergam. Fica subentendido os lances que acontecem em campo, mas para quem nunca enxergou em alguns casos fica sem referência. No nosso caso temos de descrever os lances e suas situações todo o tempo – afirmou o jornalista Arnaldo Borges, um dos voluntários do projeto.
Borges, que é o único morador de Mogi das Cruzes no projeto, acredita que se as rádios incluírem mais informações para ajudar os deficientes visuais, esse veículo entraria em uma nova era.
– Temos de descrever o que aconteceu. Como no caso de uma linda jogada. Cada lugar no Brasil conhece um tipo de drible por um nome, então é preciso deixar claro como é essa ação. Como um drible da vaca, tenho de explicar que a jogada é quando o jogador está de frente ao seu marcador e esse atleta joga a bola de um lado e pega a bola do outro.
Com esse princípio, o mogiano, um dos quatro representantes da Arena Corinthianso, está trabalhando para realizar esse projeto inovador, que de forma embrionária será utilizado na Copa. Os únicos estádio que vão oferecer esse trabalho serão a Arena Corinthians (São Paulo), Maracanã (Rio de Janeiro), Mineirão (Minas Gerais) e Mané Garrincha (Brasília).
Essa narração voltada aos deficientes visuais já existia no país, mas não era disponibilizada para o futebol. A narração descritiva no futebol existe em outros países. No Brasil, esse serviço é oferecido no teatro e em outros eventos.
O esporte não contava com essa narração. A Fifa está à frente do trabalho, mas, para se ter uma ideia, algumas pessoas envolvidas nas Olimpíadas também estão acompanhando esse processo, de acordo com Borges. Ele está passando por treinamentos pela associação sem fins lucrativos Urece, que foi convidada pela Fifa para prestar o serviço durante o mundial, sob a orientação da Centro de Acesso ao Futebol na Europa (Cafe).
Na narração descritiva temos de criar o universo de uma partida com palavras. Temos de dar elementos para que ele possa criar o jogo na sua cabeça. Descrever as cenas na mais perfeita descrição. Não podemos apenas dizer que o jogador recebe bola. Ele recebe a bola com a perna direita, olha em volta para buscar uma opção e encontra a sua esquerda o companheiro fulano de tal, que recebe a bola com a perna esquerda. São elementos que poderão situar o deficiente visual na partida. Temos de falar que o Neymar joga com a gola levantada ou que outro jogador está com o cabelo diferente.
A primeira ideia do jornalista de Mogi das Cruzes era participar de algum projeto voluntário. A oportunidade de trabalhar já em uma iniciativa que envolve a Copa do Mundo foi muito além das expectativas.
- Estava buscando um trabalho voluntário diferente. Queria algo novo que me desse inspiração, algo legal que envolvesse o esporte. Fiquei emocionado quando descobri que eu iria entrar em um projeto que nunca foi realizado em partidas no Brasil. Deixaria todos os trabalhos que eu tenho de lado para me dedicar a esse.
A Copa do Mundo começa no dia 12 de junho, na Arena Corinthians. A partida entre Brasil e Croácia marcará a estreia do Mundial e, possivelmente, a de Borges no projeto.
– Vamos cumprir a nossa missão: seremos os olhos deles!
Fonte: G1