A reviravolta na vida de Laiana começou em 2000. Na época, teve dengue hemorrágica e, na sequência, sofreu com Síndrome de Guillain-Barré, uma doença que causou uma sequela na perna direita, e interrompeu sua carreira quando tinha convites para testes em times da Região Sudeste como o Leite Moça (Sorocaba-SP), Osasco-SP, Três Corações-MG e Macaé-RJ.
– Foi muito difícil. Estava me preparando para o alto rendimento. Mas aí tive dengue hemorrágica. Imaginava que iria curar rápido. Não levei muito sério. Mas não imaginava que ia se transformar em hemorrágica. Cinco dias depois da UTI que percebi a gravidade. Quando eu perguntei para minha mãe se podia voltar a treinar, ela começou a chorar. Foi então que percebi a gravidade. Fiz um esforço para sair da maca e percebi que não consegui mais a andar. Foi desesperador. Fiz um escândalo. Perguntei até porque não morri logo. Falei muita besteira na época – lembra.
Após encerrar a carreira, Laiana passou por um novo ciclo em sua vida. Veio o período de fisioterapia e, principalmente de aceitação, que no início foi difícil. Segundo ela, logo no início teve uma espécie de amnésia e não se lembrava de fatos recentes, apenas da infância. Porém, com o passar do tempo foi relembrando e, por meio de fotos, lembrou-se do que tinha deixado para trás.
– Depois fui lembrando. Quando peguei as fotos, medalhas, lembrei dos testes. Joguei tudo fora. Fiquei muito revoltada. Joguei tudo. Infelizmente não tive apoio do meu clube, que era o Nacional, na época. Apenas da minha mãe, do meu pai e de minha treinadora, Lilian Valente. Outros amigos me ajudaram e passei a fazer fisioterapia e consegui andar novamente depois de dois anos.
E as mudanças na vida de Laiana continuaram. Passou a morar com a professora Lilian Valente e foi convencida a abandonar o curso técnico em enfermagem e ingressar na faculdade de Educação Física. Após concluir o curso, passou a trabalhar com pessoas com deficiência, primeiro na Secretaria Municipal de Esportes de Manaus, e depois na Secretaria de Estado dos Direitos de Pessoas com Deficiência (Seped), por meio do projeto Viver Melhor – Atividades Motoras, onde ainda está. Segundo ela, após esses dois trabalhos, passou a encarar a vida de outra forma.
– Vi que tinha pessoas em situação mais difícil que a minha. E mesmo com as dificuldades, essas pessoas sempre com um super sorriso no rosto. E passei a ver que estava tudo bem. Isso me fez, de verdade, me olhar no espelho. Eu estava frustrada e não conseguia a realização. Hoje aceito. Eu nem ligo mais. Já superei. Não tem mais nada impossível. Qualquer problema que vejo hoje dá para tirar de letra – completou.
DE VOLTA À ATIVA
Após 15 anos distante de atividade esportiva, Laiana jamais sonhou que um dia poderia voltar a praticar uma modalidade. Sua intenção era apenas trabalhar com as crianças e ser instrutora de vôlei. Mas quis o destino que o presidente da Associação Brasileiro de Vôlei Sentado (ABVP) aparecesse em sua vida. O dirigente em Manaus, em agosto de 2014, para uma capacitação junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e conheceu a história da amazonense.
– Conheci o Amauri Ribeiro durante um curso de capacitação do Jaavas (Jogos Adaptados André Vidal de Araújo). Estávamos em uma sala e ele viu eu mancar quando levantei. Ele perguntou e eu disse que era deficiente. Ele perguntou se eu tinha praticado algum esporte e disse que tinha feito vôlei. Aí ele pediu para eu fazer o teste. Fiz, ele gostou, e depois deu a notícia para todo mundo que eu estava sendo convocada, verbalmente, para um período de testes na seleção brasileira – explica.
Ao chegar à seleção brasileira, Laiana Rodrigues ficou um período de dez dias em testes. O início foi difícil. Segundo a paratleta, que tem 1,90m de altura e na época estava com 110kg, teve dificuldade para se deslocar na quadra. Mas resolveu continuar e, depois dos treinos, recebeu a notícia de que iria permanecer e disputaria o Mundial da Holanda.
– Aí me emocionei de vez depois da segunda convocação, com carta e tudo. Porque meu sonho era chegar à seleção brasileira. Acredito que foi um encontro de amantes, entre eu e a modalidade. Uni o útil ao agradável. E, por isso, hoje, tento levar essa situação que passei como exemplo. Trabalho com pessoas com deficiência. Era algo que estava sendo guardado pra mim.
PARALIMPÍADAS RIO 2016
Além do Mundial da Holanda, Laiana também disputou em 2015 o Parapan-Americano de Toronto, no Canadá. Conquistou com a seleção brasileira a medalha de prata, na final contra os Estados Unidos. E a paratleta amazonense vive a expectativa de ser convocada para as Paralimpíadas do Rio de Janeiro, no próximo ano.
– O Brasil está confirmado. Eu ainda preciso aguardar a convocação. Podemos dizer que estou com um pé nas Paralimpíadas – disse, ao ressaltar que quer ter novamente a sensação que teve nos Jogos de Toronto.
– Quando vi a Rosinha (atletismo), o Daniel Dias (da natação), foi quando eu caí na real. Percebi que estava em um grande evento – lembra.
Desenvolver o vôlei sentado no Amazonas
Segundo Laiana, em Manaus, um de seus focos é conseguir montar uma equipe de vôlei sentado. Para isso, ela explica que tem buscado parceria com a Associação dos Deficientes Físicos do Amazonas (Adefa) e a Federação de Esportes Paralímpicos do Amazonas (Fepam).
– Tivemos contato com o comitê paralímpico em Manaus (Fepam). Estamos vendo com eles a possibilidade de montar uma equipe (vôlei sentado). Vamos tentar montar. A Adefa também vai tentar montar o vôlei. Pela prefeitura (de Manaus) estou vendo com o professor Eldo Coelho, da Semjel. Vamos ver se conseguimos – explicou.
Fonte: globoesporte.globo.com