Um café nas Filipinas está quebrando o estigma e combatendo o preconceito ao empregar pessoas com deficiência.
Jose Canoy tinha 12 anos quando a sua família percebeu que ele jamais seria capaz de conseguir boas notas na escola.
A família entendeu que, diferentemente de outras crianças da mesma idade, Jose, que é autista, nunca seria capaz de fazer um trabalho de história ou de memorizar os planetas do Sistema Solar.
O cérebro dele simplesmente não funcionava daquela maneira.
A mãe de Jose, Girlie, sempre tratou o autismo do filho de forma positiva e diz que o menino aproximou a família ainda mais. Quando o autismo de Jose foi confirmado, ela não ficou frustrada, embora conte que os amigos sempre a olhavam com pena quando contava a novidade.
“Está tudo bem, não me sinto mal, mas para mim ele é igual aos outros, apenas mais dos meus filhos”, ela respondia.
O que deixava Girlie preocupada era o futuro de Jose, que hoje tem 22 anos, porque, naquela época, as opções para crianças com autismo nas Filipinas eram muito limitadas.
Foi isso que levou a família a abrir um café. Girlie deixou o negócio nas mãos dos seis filhos, incluindo Jose, que é dono, mas também trabalha de garçom algumas vezes por semana.
O plano é que no futuro as outras crianças possam dar continuidade aos negócios e ajudar Jose.
Inspirada pela mudança positiva que viram em Jose quando ele começou a aprender tarefas práticas, a família decidiu empregar outras pessoas com autismo e batizaram o local de “Puzzle Café”, porque o símbolo internacional do autismo é uma peça de quebra-cabeça.
O símbolo está em todos os lugares no café, do sofá aos aventais usados pelos garçons. O local foi inaugurado em abril para coincidir com o mês de conscientização do autismo nas Filipinas.
Na aparência, é um restaurante bacana como qualquer outro, colorido, com móveis modernos e piso de cimento. Em uma prateleira, encontram-se geleias importadas e risotos embalados, e em outra, há pulseiras e chaveiros feitas por pessoas com autismo.
Talvez por isso, muitos clientes nem percebem que a maioria dos funcionários é autista, diz Ysabella, irmã de José, que administra o café no dia-a-dia.
Às vezes, segundo Ysabella, há quem se irrite com a dificuldade de se comunicar com os garçons, mas é justamente esta interação que possibilita mudanças na percepção que as pessoas têm sobre o autismo, e que ressalta o que as pessoas autistas são capazes de fazer.
A luta contra o preconceito era um dos objetivos mais importantes da família Canoy ao abrir o café.
Com apenas dois anos de diferença em suas idades, Jose e Ysabella são muito próximos. Na piscina de um hotel durante as férias da família, quando ela tinha seis anos, notou pela primeira vez que outras crianças e adultos olhavam de maneira diferente para Jose. Ele estava fazendo as mesmas coisas que sempre fez, mexendo os braços, falando sozinho e com os seus brinquedos.
“Quando as pessoas começaram a olhar para ele, eu percebi: ‘nossa, é porque ele é diferente’”, ela conta.
Mais tarde, Ysabella estudou educação especial e hoje ajuda os funcionários do Puzzle a concluírem as suas tarefas.
Jose vê o trabalho no café como um desafio – e a intenção é exatamente esta.
Ysabella ajuda o irmão a escrever a receita do suco de limão filipino, o típico kalamansi, e pede que receba os clientes da melhor maneira possível, apertando as mãos e dizendo “obrigado”.
Jose pede ajuda quando se sente ansioso.
Com a ajuda de Josephine de Jesus, uma terapeuta da fala especialista em crianças autistas, o café tem uma série de roteiros e cartilhas para explicar cada atividade para os funcionários – desde a distância que precisam ficar ao cumprimentar um funcionário até instruções para fazer waffles, incluindo ilustrações com fotos.
A fonoaudióloga trabalha voluntariamente no café porque acha o local bom para praticarem suas tarefas diárias de uma maneira menos monótona do que em uma clínica. “Existem situações que não conseguimos replicar na terapia”, diz.
Embora tenha sido aberto por causa de Jose, o Puzzle Café vem inspirando várias pessoas com deficiência e suas famílias. Além dos dez garçons autistas, o estabelecimento treina jovens com Síndrome de Down, uma jovem mulher com paralisia cerebral e conta com um assistente de cozinha autista.
“Você percebe que estas pessoas não têm oportunidades, estamos felizes por fazê-las felizes”, diz Girlie.
Já Jose, quando perguntado sobre como se sente a respeito do trabalho no Puzzle Café, responde sem hesitar: “Feliz. Me sinto feliz!”
Fonte: www.bbc.com