Sucesso no Instagram, criança com síndrome de Down ajuda a combater o preconceito
Landim e Karla Ferraz, de Fortaleza, são pais de Mateus, de um ano e dez meses. O pequeno já faz sucesso no Instagram com a conta @mateusehdemais e, apesar de ser novinho, exerce um papel importante contra o preconceito. Mateus tem síndrome de Down e seu pai mostra seu cotidiano e luta contra a discriminação. Em entrevista ao Portal R7, Landim falou como surgiu a ideia de criar a conta.
“Sempre que nós postávamos algo do Mateusinho nas nossas redes sociais, a repercussão era bem maior do que as demais postagens. Além disso, era difícil achar no Instagram postagens sobre pessoas com síndrome de Down com foco nas pessoas e não na síndrome. Daí foi bem natural a gente querer mostrar para todos que o Mateusinho não se resumia a um cromossomo a mais.”
Papai então teve a ideia de fazer um perfil como se fosse o próprio Mateus, uma forma subliminar de mostrar que ele pode ser independente e a esclarecer para muita gente que a criança com síndrome de Down e sua família podem se divertir, sair, viajar e ter uma vida completa como todas as outras, basta ter as mesmas oportunidades.
Como vocês reagiram ao descobrir que Mateus é especial?
– No nosso caso, as coisas aconteceram um pouco diferente do que ocorre com a maioria. Ainda durante a gestação, nós descobrimos que o Mateus teria uma alteração genética, com chances de ser algo muito sério incompatível com a vida e com riscos até para a Mamãe. A partir de outros exames, ficou constatado que o Mateus tinha SD. Esse período de indefinição e de desconhecimento foi sem dúvida o pior momento para a gente. Quando saiu o resultado que nosso bebê tinha SD, em virtude de tudo que já havíamos escutado e pesquisado, nós e a família ficamos extremamente felizes, até saímos para jantar e agradecer a Deus. Acho que a forma como as coisas aconteceram para a gente facilitou e muito a maneira como nós encaramos essa condição genética. Na maioria dos casos, não é dessa forma.
Ficaram com medo de sofrer preconceito?
– Nós nunca tivemos medo de sofrer, mais do que isso nós tínhamos a convicção de que ele ia surgir. Mas resolvemos não encarar isso como um drama, mas com leveza e amor. A gente sabe que muito do preconceito é por falta de conhecimento e sem a intenção da maldade. E isso em geral começa dentro da própria família. Por exemplo, ao saber que o Mateus tinha SD ainda no início da gravidez divulgamos pra todo mundo, família e amigos, e as reações foram diversas. Em geral, de pesar, mas nós não nos chateamos e procuramos mostrar pra todo mundo que não estávamos abalados e pra baixo.
– Resultado: Mateusinho nasceu de emergência prematuro com alto risco de ir para UTI, e nós já não esperávamos muitas visitas a nosso bebê no hospital, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Uma quantidade enorme de gente foi a maternidade, muito mais até do que no nascimento da nossa primeira filha, e as pessoas não tinham mais receio ou desconforto em conversar com a gente sobre nosso bebe. Só recebemos carinho. A partir daí vimos que tudo seria reflexo do nosso comportamento e sentimento.
Com a exposição, algum seguidor chegou a ofender vocês? Como reagiram?
– Nós temos recebido centenas de mensagens e e-mails. Todos eles de muito carinho. Muita gente compartilha sua história, outras pessoas se dizem apaixonadas pelo Mateus, gente que se diz estimulada a ajudar crianças com síndrome de Down e até a adotar. E olha que a grande maioria das pessoas que seguem o perfil do Mateus não tem relação com a síndrome de Down. Nessa semana recebemos o primeiro comentário negativo, uma pessoa nos chamava de covarde e dizia que nós só queríamos expor nosso filho.
– Mas não levamos em consideração, nós temos certeza que foi uma interpretação errada, afinal toda mãe e pai tem orgulho dos seus filhos, mostra as fotos pra os amigos gosta de mostrar as gracinhas, e conosco é da mesma forma, temos muito orgulho do nosso filho, e o fato de ele ter SD não nos envergonha nem nos inibe, acho até que ajuda os pais de outras crianças com Down a também se sentirem bem com seus filhos.
Como é a relação de Sophia (irmã) e Mateus?
– Sophia, nossa princesa, tem quatro anos. A relação dela com o Mateusinho é igual a de outros irmãos. Ela adora ele, diz que é o bebê dela, abraça, beija, brinca, mas também tem ciúme, implica, faz birra com ele. Não difere da relação entre irmãos pequenos.
Você acha que a criação do Instagram para o Mateus ajuda a combater o preconceito contra a síndrome de Down?
– De certa forma sim. Não é um perfil onde postamos informações detalhadas sobre a síndrome de Down. É um perfil que mostra a vida de um garotinho fofinho que se diverte como toda outra criança. Nós nunca tivemos qualquer restrição em mostrar o Mateus e falar abertamente sobre a síndrome de Down. Sempre fizemos questão de sair, ir a festinhas de aniversario, e interagir com outras famílias e seus filhos.
– Muitas vezes, o preconceito começa dentro da própria família. Com o perfil percebemos o quanto as pessoas se surpreendem positivamente com ele, percebem que ele não é síndrome de Down, ele é muito mais que um cromossomo extra, ele é uma criança linda, feliz que por um acaso genético e tem síndrome de Down. E isso, sem dúvida, ajuda a mudar o olhar sobre a síndrome. São muitos os relatos de mamães de bebes com SD que se dizem mais tranquilas e felizes ao ver os posts do Mateusinho, e de pessoas que não tem ninguém na família com necessidades especiais, mas que perceberam que eles podem tudo, só precisam ser acolhidos.
– Uma coisa muito importante é deixar bem claro que síndrome de Down não é doença. Mateusinho, por exemplo, é supersaudável. Outro ponto importante é que sim, eles tem limitações, mas esses limites, até onde vão chegar, não somos nós que vamos definir, são eles mesmos. A inclusão é fundamental nesse desenvolvimento, como por exemplo o estudo em escola regular, o que já é um direito garantido por lei mas que muitas escolas ainda resistem em cumprir. Aos pais que receberam a notícia que seu bebê tem síndrome, eu digo que, apesar do choque inicial, fiquem tranquilos. Procurem outras famílias com filhos com SD, associações, como a nossa Fortaleza Down, que vocês vão perceber que nossos filhos só precisam de estimulo e oportunidades, afinal de contas, o amor não conta cromossomos.
Com informações do Portal R7
Fonte: folhavitoria.com.br