Ele contou que cada uma das adoções tem uma história especial. “Primeiro, a Paula assistiu a um filme e falou: ‘Olha, acho que poderia ser Down’. Aí, a gente fez a habilitação para Down, colocaram nosso nome no cadastro e fomos buscar o Didi, o mais velho. Depois, por um engano abençoado, a gente permaneceu na lista e isso nos permitiu ter nossa segunda filha, a Clara”.
Na sequência, para completar a família, vieram o Henrique e a Tainá. “A situação apertou financeiramente. Eu era professor de filosofia no Ensino Médio, a Paula em dois, três empregos e prestei concurso para escrevente. Eu teria que começar a trabalhar no dia 21 e o pessoal ligou e falou: ‘Sua filha tem que ser buscada no dia 21’. Eu faltei no meu primeiro dia de serviço para buscar nossa quarta filha, a Tainá”, contou.
Guilherme foi o último a ser adotado. “A assistente social conversou comigo pelo telefone e falou: ‘Olha, ele é moreno, moreninho’. Eu falei: ‘Sei, sei’. E continuei conversando. ‘Olha, ele é bem moreno, ele é moreno escuro’. Aí, eu percebi que ela estava com dificuldade devido ao preconceito. Aí, eu disse: ‘Olha, a senhora poderia me dizer que ele é negro, por favor?’. Hoje ele é um dos nossos filhos mais alegres. Ele não enxerga, ele não entende muito bem, mas ele sorri, ele aprendeu a abraçar, abraça os irmãos”, contou Vieira.
Cada criança trouxe consigo alegria e cuidados. A rotina inclui levar os filhos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), dar remédios, cuidar da alimentação e, claro, brincar.
“É só por amor que a gente tenta cuidar de outra pessoa, então se é seu filho biológico ou se é um filho adotivo, a partir do momento em que você decide ser pai, ser mãe, é uma coisa que é do coração”, comentou Ana Paula.
Saudade
Apesar das alegrias, uma saudade vai companhar para sempre o casal. Clara, Clarinha, como era chamada, morreu com sete anos. “Ela era linda. Ela tinha um prognóstico muito ruim, de no máximo 30 dias de vida. A gente estava a cada mês esperando que ela fosse falecer e parou de esperar porque ela estava linda”, contou Ana Paula. Agora, a fisioterapeuta carrega o nome da criança no braço, tatuado.
Depois de adotar, ela descobriu que não pode dar à luz, mas a notícia, ao contrário do que costuma acontecer, não foi mal recebida. “Não foi uma coisa para sofrer, a gente sente que foi uma coisa só para dizer que estamos no caminho certo”.
Fonte: G1