Cadeirante supera acidente e sonha com Jogos Paralímpicos
O ano de 2005 ficou gravado na vida de Edson Nascimento. O de 2016 ele espera ser ainda mais marcante, mas agora por um sonho esportivo. Gerente de banco e atuante no mercado financeiro, ele viu sua rotina mudar ao sofrer um acidente de carro há quase 10 anos. Na época, Edson tinha 32 de idade e precisou trabalhar fisicamente e psicologicamente para se recuperar a ponto de sonhar com os Jogos Paralímpicos de 2016.
Foram dois meses internado e mais 45 dias iniciando a reabilitação no Hospital Sarah Kubistchek, de Belo Horizonte. Os primeiros anos foram de tentativas de inclusão nos esportes como forma de adaptação à nova rotina. Sessões de fisioterapia faziam parte desta nova vida.
“Fui apresentado ao esporte no Sarah Kubitschek. Tenho duas barras de titânio nas costas para dar estabilidade ao meu corpo. Lá, conheci o basquete na cadeira de rodas. Só que era muito difícil por conta do movimento de rotação, devido ao titânio. Não me adaptei”, revelou o atleta.
Em 2011, ele conheceu um projeto na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e passou a pratica outras modalidades. “Até conhecer o projeto, em 2011, fiz fisioterapia. Existem várias atividades, como o banho assistido, quando alguém leva a pessoa até o mar, tem vôlei sentado, frescobol, xadrez, dama e a handbike”, destacou Edson, que se apaixonou pelo ciclismo.
“No início, você faz 20 minutos. Só que me empolguei e fiquei quase duas horas, foi uma sensação de liberdade, com o vento batendo no meu rosto. Difícil foi comprar. No Brasil, não tinha. Fiz uma em casa, de ferro, e comecei a andar pelas ruas próximas do meu bairro, sem noção das regras do trânsito. Fui muito xingado pelos motoristas”, brincou o atleta, que sempre está de bom humor.
A primeira competição foi em março de 2011 e Edson competiu com uma handbike emprestada. Ficou em 4º lugar no Aterro do Flamengo. Empolgado com o resultado, o atleta investiu na compra do equipamento meses depois.
Em 2012, o primeiro pódio. Foi em Peruíbe (SP), na 1ª etapa do Campeonato Brasileiro. Edson ficou em 2º lugar na competição contra-relógio (rodar a distância – entre 10km e 12km – no menor tempo possível e no sentido contrário ao relógio). No dia seguinte, participou da prova de estrada, que tem a distância entre 35 km e 40 km. Nesta, Edson ficou 4º lugar.
“A última prova foi a Maratona do Rio. Desci a Niemeyer com a coroa mediana para não fazer muita força, só que ao passar a marcha, a corrente saiu da coroa. Desci tentando acertar a corrente e preocupado em frear nas curvas. Era primeiro, mas tive que parar para ajustar a bike e terminei em 3º lugar”, recordou o atleta.
Rotina de treinos
O treinamento paraolímpico do atleta, que sonha com a disputa dos Jogos de 2016, incluem ciclismo (terças e quintas, na Barra da Tijuca), rolo de treino (segundas, quartas e sextas, em casa) e corrida no Aterro do Flamengo (domingos), além de musculação de segunda à sexta.
“A ideia é competir os Jogos 2016 Paralímpicos. Tudo depende dos resultados em 2015 e das vagas que serão disponibilizadas pelo Comitê Brasileiro de Paraciclismo”, destacou Edson, que viaja no próximo dia 29 para Nova York para disputar a maratona de 42 km.
Esta não será a primeira participação em Nova York. Em 2013 ele ficou em 15º lugar, com um tempo de uma hora, 58 minutos e 13 segundos. Desde 2011 competindo, Edson Nascimento já disputou nove Campeonatos Brasileiros.
Existem cinco tipos de categorias no paraciclismo. Edson participa da H3, paraplégicos que não têm força de tronco. Normalmente, as corridas de H3 têm 20 paratletas.
“Saio 10 minutos antes, mas ao terminar a corrida, volto para motivar as pessoas. Gosto de incentivar a todos para que ninguém desanime. As pessoas brincam que correr deitado é mole”, brincou o atleta.
Preconceito e vida adaptada
Com o acidente em 2005, a casa do atleta precisou ser adaptada. As portas são mais largas (80 cm de distância) para que o cadeirante possa acessar os locais, assim como o piso para que a cadeira possa circular sem barreiras como tapetes e degraus.
A vida está adaptada para Edson circular, treinar e sonhar com os Jogos Paralímpicos 2016, mas o dia a dia ainda apresenta o preconceito e o desrespeito como barreiras a ultrapassar.
“Ninguém acha que o deficiente pode namorar, ir a um motel ou ao shopping. Falta aceitação ao deficiente, que tem uma limitação de acessibilidade. A vaga para o deficiente tem um espaço melhor e maior para que possamos embarcar e desembarcar com a cadeira de rodas. Falta respeito das pessoas às leis”, reclamou Edson, em um raro momento que o bom humor é deixado de lado.
Atualmente, o atleta conta com patrocínio da Assim Saúde, Otto Restaurante, Midway, Furnas e Academia Top 3 para poder viajar, treinar e disputar as competições.
Fonte: Terra