Recuperação
Somente Léia ficou ferida no acidente e precisou ficar 25 dias internada em um hospital de Franca (SP), onde morava na época. O diagnóstico de paraplegia levou seis meses para ser conclusivo e foi nesse momento que ela percebeu que seu jeito didático poderia dar forças para enfrentar a condição de cadeirante e superar as dificuldades. “Eu estava com mais 40 pessoas aprendendo sobre lesão medular no Instituto Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte, estava todo mundo amedrontado e só eu com coragem para fazer as perguntas, que sempre tinham respostas negativas”, relembra.
“Tudo o que eu questionava o médico respondia: ‘não, não há possibilidade’. Perguntei se existia chance de regenerar a medula com células tronco: ‘não, não há possibilidade’. Chegou um momento que eu fui clara, perguntando se todos que estavam ali não tinham chance nenhuma de voltar a andar, o médico respondeu que era isso, e todos encheram os olhos de lágrimas e começaram a chorar. Foi quando eu percebi que já tínhamos nãos suficientes para dizer sim para a vida”, afirma Léia. Ao sair do anfiteatro onde o médico atendia, a professora sugeriu que todos apostassem corrida com as cadeiras de rodas. “Todo mundo voltou a sorrir e saímos correndo pelo corredor”, diz.
Retorno às aulas
A volta de Léia às salas de aula ocorreu cinco anos depois do acidente e duas cirurgias. A professora também precisou esperar dois anos para a publicação da readaptação dela pela Secretaria de Estado da Educação. O retorno foi na escola José dos Reis Miranda Filho, em Franca, e há três meses pediu transferência para Rifaina, para ficar mais perto da família e dar uma criação melhor para o filho de 11 anos, quem considera o grande responsável por sua superação. “Ele é minha maior motivação, para continuar vivendo, lutando, para educar e ver crescer”, comenta.
Com movimentos apenas nos braços, pescoço e cabeça ela utiliza um carro adaptado para dirigir 30 quilômetros entre Sacramento, onde mora, e Rifaina para dar aulas de apoio pedagógico três vezes por semana. Segundo ela, a escola já estava adaptada quando chegou. “Estava tudo pronto, só não tinha quem usasse”. No local, há rampas e barras para ajudar na locomoção, além de uma sala especial, com banheiro adaptado, onde aplica sonda para esvaziar a bexiga a cada quatro horas, com ajuda de uma enfermeira da rede básica de saúde. Devido à paraplegia, alguns órgãos de Léia não funcionam normalmente.
Em pé
A cadeira especial que usa, que a permite ficar em pé, custou R$ 20 mil e foi comprada com ajuda de amigos e familiares. O equipamento é necessário também para fortalecer os ossos e órgãos. “Ativa a circulação, fortalece a musculatura e com ela ainda posso pegar livros nas estantes, abrir armário e posso olhar olho no olho”.
Léia afirma que não sofreu preconceitos ao retornar às aulas e é respeitada pelos alunos e professores. “Inicialmente eram alunos menores e senti acolhimento, deles querendo ajudar, empurrar a cadeira, com a motorizada tinha aluno querendo dar voltinha no colo, conto minha história, digo que sou a Léia de sempre, só que agora sobre duas rodas”, afirma.
Ela vê sua presença na escola como uma forma de motivar os colegas de trabalho e os alunos. “No momento que me encontro com os outros professores, que se debatem com tantas dificuldades, sejam físicas, materiais, afetivas ou emocionais na escola, e com as crianças que se encontram em situações difíceis, vejo que eles enxergam que se eu estou ali sem reclamar eles também podem unir forças para que a escola possa evoluir”, diz.
Léia Borges
Fonte:G1