No início do relacionamento, Flávia se tornou “fluente” em Libras para se comunicar com Everton. “Começamos a namorar em 2000. Fui aprendendo cada vez mais sobre a cultura e a identidade surda, além de me tornar fluente em Libras”, disse Flávia. O engajamento que cada um tinha pela causa dos deficientes mesmo antes de se conhecerem fez com que se aproximassem mais. “O amor de amigo se transformou em amor e admiração de homem e mulher”, disse a fonoaudióloga.
Casados há 11 anos, o respeito e a admiração pela capacidade de superar limites fizeram com que, além de parceiros de trabalho, se tornassem companheiros na vida e nas ações pelos direitos e inclusão da pessoa com deficiência. Hoje, ambos atuam como intérpretes e instrutores de Libras.
O casal tem dois filhos ouvintes, Pedro, de 8 anos, e João, de um ano e nove meses. O mais velho conhece a Língua Brasileira de Sinais, se comunica com os pais nos dois idiomas e até ensina os colegas na escola. “Pedro sabe Libras muito bem. O João está construindo o conhecimento, mas já entende muita coisa e começa a reproduzir o que aprende em casa”, orgulha-se a mãe.
Com a ajuda de intérprete, Everton contou ao G1 as dificuldades que viveu para se inserir na sociedade antes de aprender Libras. “Antigamente eu não conhecia nada, não entendia das leis e direitos da pessoa com deficiência. Minha vida se limitava a passeios e festas, não me desenvolvia profissionalmente”, lamentou. Formado no curso de instrutor de Libras, Everton assumiu, neste ano, cargo efetivo em sua área de atuação na Prefeitura de Piracicaba. Para ele, a maior barreira que impede a inclusão de surdos na sociedade é a falta de comunicação.
Flávia e Everton alertam para a importância da presença de instrutores e de intérpretes no ensino regular e enaltecem iniciativas realizadas em parceria com organizações não-governamentais e o poder público. “Temos que lembrar que a inclusão não acontece só na escola, ela precisa acontecer em todas as esferas da vida da pessoa, no trabalho, no social, em atividades artístico-culturais, tudo isso é importante”, disse Flávia.
No último domingo (21), o casal participou de uma visita orientada em Libras à exposição da 12ª edição da Bienal Naïfs “O Santuário refletido no espelho e em multi-telas”, com curadoria de Diógenes Moura, em cartaz no Sesc Piracicaba. A atividade, que nesta primeira realização em parceira com o Centro de Assistência de Referência à Surdez (Cersurdo) reuniu cerca de 40 visitantes surdos, integrou a programação da Semana de Luta da Pessoa com Deficiência em Piracicaba.
A Semana de Luta da Pessoa com Deficiência de Piracicaba teve início no dia 15 de setembro e segue até esta sexta-feira (26) com atividades culturais, visitas guiadas com recursos de tradução em Libras e exposições, entres outras atividades. O evento, inédito em Piracicaba, foi instituído pela Lei Municipal 7.195/2011.
“O evento é de grande importância para demonstrar que a pessoa com deficiência tem toda condição de se inserir na sociedade. Procuramos fazer um evento bem diversificado, com atividades esportivas e artístico-culturais para mostrar que a pessoa com deficiência pode estar presente em todos os setores da sociedade”, disse Wander Vianna dos Santos, do Conselho Municipal de Proteção, Direitos e Desenvolvimento da Pessoa com Deficiência (Comdef). A programação é gratuita e aberta a toda população. Confira:
Sexta-feira (26)
19h – Visita orientada em Libras na exposição da Bienal Naifs. Local: Sesc Piracicaba (Rua Ipiranga, 155, Centro)
19h30 – Sarau Inclusivo: mostras de trabalhos desenvolvidos em processos artísticos-culturais, por pessoas não ouvintes e ouvintes, com tradução simultânea em Libras. Local: Sesc Piracicaba (Rua Ipiranga, 155, Centro)
Até 9 de novembro
Exposição “Um museu feito para nós, por nós”, com trabalhos de 15 deficientes auditivos e visuais. Local: Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes (Rua Santo Antônio, 641, Centro)
Fonte: G1