Isolado no trabalho, surdo cria escola de língua de sinais
O sentimento de inadequação foi o ponto de partida para o curitibano Éden Veloso, 38, investir em um negócio próprio. Ele é surdo e, quando trabalhou em uma multinacional, sofria preconceito e tinha dificuldade para se comunicar com os colegas.
“Nenhuma pessoa da empresa sabia libras [língua brasileira de sinais], não tinha comunicação nem com os funcionários nem com os supervisores da área de produção. Todos sabiam que eu era surdo e me colocavam apelidos como mudinho, macaco”, contou o hoje empresário, que percebia as ofensas por leitura labial.
Formado em letras, resolveu então, em 2009, que se dedicaria às aulas de libras para que as empresas passassem a se comunicar com os surdos. Para isso, teve de criar o material didático e assim começou a Mão Sinais, em Curitiba.
O livro com DVD “Aprenda Libras com Rapidez e Eficiência” custa R$ 30 e já vendeu mais de 45 mil exemplares, diz Veloso. Com o dinheiro do material, o empresário abriu a escola de língua de sinais, que tem hoje cerca de cem alunos –apenas um deles é deficiente auditivo.
O interesse de pessoas sem deficiência em aprender libras surpreendeu quem esperava que o negócio não fosse durar. “Muitos falavam que era jogar dinheiro no lixo, pois ninguém tinha interesse em aprender uma língua pouco divulgada”, lembra Veloso, que considera esse o diferencial de sua empresa.
O empresário não revela o faturamento, mas cobra de R$ 110 a R$ 130 mensais por quatro horas de aula semanais. A escola também presta serviços de intérpretes e realiza cursos de capacitação para empresas. O trabalho ajuda a dar fôlego financeiro à escola, que só com as aulas ainda não se mantém.
Público interessado é restrito, mas foco pode ser segredo do negócio
Rodrigo Vianna, consultor do Sebrae-PR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná), e Cassio Spina, fundador da aceleradora Anjos do Brasil, dizem que o número de produtos e serviços criados para atender a deficientes é pequeno e isso pode ser uma vantagem.
Segundo Spina, soluções voltadas ao público com necessidades especiais são minoria. Por isso, empresas que atendem a essa demanda podem virar referência e ter um público fiel.
Para Vianna, embora o negócio possa parecer segmentado, ele avalia que o mercado tem demanda, principalmente na internet. “O fato de estar em Curitiba faz com que menos pessoas tenham acesso. A expansão para a internet é um caminho natural e que fará toda a diferença para crescer. O mais difícil, que é a ideia e criar conteúdo, isso ele já tem.”
Esse é o objetivo de Veloso, que pensa em investir em educação a distância para aumentar seus negócios.
27% de brasileiros com deficiência trabalham por conta própria
A dificuldade para encontrar trabalho e empresas adequadas para receber funcionários com deficiência não é uma particularidade da história de Veloso. O censo demográfico do IBGE de 2010 mostrou que no país havia 20,3 milhões de pessoas com deficiência ocupadas. Dessas, 27,4% trabalhavam por conta própria –percentual maior do que o registrado no total da população (20,8%).
Em São Paulo, levantamento feito pelo Sebrae mostra que entre deficientes há mais empreendedores que entre pessoas sem deficiência.
De 23% a 27% das pessoas ativas economicamente com alguma deficiência no Estado são empreendedores, o índice é mais baixo entre deficientes visuais e mais alto entre deficientes físicos. Entre os paulistas sem deficiência, o índice é de 21%.
Fonte: midianews.com.br