Mercado de trabalho recebe mais pessoas com deficiência
Um estudo publicado esta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) indica que a participação de pessoas com deficiência (PCD) no mercado de trabalho do estado da Bahia passou de 15,4% para 25% ao longo de uma década, considerando-se indivíduos com leve perda de audição, visão ou capacidade de locomoção.
Um dos dados que mais chamam a atenção no livro Perfil das pessoas com deficiência no mercado de trabalho da Bahia na primeira década dos anos 2000 é que a participação das PCD na indústria teve um salto de 10,1%, em 2007, para 26,3% em 2011, de acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Um crescimento que, em parte, também pode ser explicado pelo envelhecimento da população e a maior exposição a doenças e acidentes.
“No geral, os empregos destinados a pessoas com deficiência ainda são majoritariamente os de menor qualificação”, avalia a economista Flávia Rodrigues, técnica do Dieese e coordenadora do relatório. De acordo com especialista, o perfil da PCD que trabalha é de homem, com cerca de 40 anos e baixa escolaridade.
Desafio
Avançar na inclusão de pessoas com deficiência que estejam preparadas para cargos mais altos é o principal desafio, segundo especialistas em relações de trabalho e gerentes de recursos humanos.
Se a Lei 8.213, de 1991, forçou as grandes empresas a preencherem uma cota de seu quadro de pessoal com trabalhadores que tenham visão, audição ou mobilidade reduzidas, pouco está sendo feito para que todas as PCD se integrem, de fato, à cadeia produtiva. “Normalmente, os empresários dão preferência a pessoas que tenham pouca perda auditiva”, relata a presidente da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos da Bahia (Apada), Marizanda Dantas.
A entidade é credenciada junto ao Ministério Público do Trabalho para oferecer cursos de capacitação a quem tem algum tipo de deficiência auditiva. Os cursos normalmente são bancados por empresas que, por algum motivo, não cumprem a cota exigida por lei e são submetidas a um termo de ajustamento de conduta (TAC).
Marizanda reclama que neste ano houve uma redução na quantidade de pessoas que efetivamente são contratadas pelas empresas. “Tem acontecido de concluirmos as turmas e esperarmos durante vários dias sem que haja uma resposta, o que deixa os jovens ansiosos”, relata a presidente da Apada.
A associação oferece cursos de auxiliar administrativo e auxiliar de serviços gerais. Uma das maiores redes varejistas do mundo, a Walmart, dona do Bompreço, emprega na Bahia 450 portadores de deficiência, segundo números fornecidos pela própria empresa, o que representaria exatamente o limite de 5% do quadro de pessoal a que está obrigada por lei.
Questionada se adota políticas parecidas em outros países onde não há essa obrigação, a direção da empresa respondeu por meio de sua assessoria que “tem uma política interna global que foca e trabalha a diversidade, onde se enquadram as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência”.
Sobre o teor da legislação, a empresa afirma em nota não assinada: “A legislação é importante para incentivar o mercado de trabalho e a abrir as portas para essas pessoas, que possuem na maioria dos casos mais dedicação e empenho que as pessoas sem qualquer limitação. Isso porque querem mostrar o seu valor para não serem nem se sentirem discriminadas. A legislação também ajuda o próprio portador de deficiência a ter mais clareza sobre o espaço que lhe é reservado no mercado de trabalho”.
Principal rede de lojas de móveis e eletrodomésticos no estado, a Insinuante tem 258 funcionários com algum tipo de deficiência, sendo 107 no estado da Bahia. “A obrigatoriedade de contratação através de cotas nos deu a oportunidade de trabalhar com profissionais de diferentes perfis”, afirmou Laís Ambrósio, coordenadora de recursos humanos da Máquina de Vendas, controladora da Insinuante e da Ricardo Eletro.
Contratada há seis meses, Alana não tem dificuldades para exercer as tarefas de auxiliar de escritório, mas lamenta não poder interagir plenamente porque nem todos os colegas conhecem a língua brasileira de sinais (Libras). “O governo deve melhorar a educação para as pessoas com deficiência pensando na inserção deste profissional, e as empresas, preparar mais seus funcionários para receber as pessoas com deficiência”, opinou Alana em resposta enviada por e-mail.
Fonte: A Tarde