Estreia: Premiado em festivais, ‘Colegas’ celebram a inclusão social
É difícil não simpatizar com tudo o que está por trás do filme “Colegas”, de Marcelo Galvão. Começando por sua inegável contribuição ao esforço de normalização à maneira como se encara a síndrome de Down, da qual são portadores os três protagonistas, Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola.
Os atores Breno Viola, Rita Pokk e Ariel Goldenberg recebem prêmio em Gramado (Foto: Edison Vara/Pressphoto)
Dois dos protagonistas – o casal Ariel e Rita – já haviam sido vistos no premiado documentário “Do luto à luta” (2005), de Evaldo Mocarzel, outro esforço bem-sucedido no sentido da quebra de preconceitos.
Referências cinematográficas somam-se ao longo da história de “Colegas”, a começar pelo nome de um dos protagonistas, Stallone (Ariel Goldenberg) – cuja história pessoal é marcada pelo abandono, tal como os outros internos da instituição que abriga os principais personagens.
Cinéfilo de carteirinha, trabalhando na videoteca local, Stallone é fascinado pela história de “Thelma & Louise”, o filme cult de 1991 de Ridley Scott que acompanhava a fuga de duas mulheres (Geena Davis e Susan Sarandon). A partir dessa inspiração, o trio formado pelos amigos Stallone, Aninha (Rita Pokk) e Márcio (Breno Viola) apossa-se do Karman Ghia de seu guardião, Arlindo (Lima Duarte), e para a estrada eles vão, de pijama e tudo.
O caminho é pontuado por vários golpes de sorte – como sua primeira parada num circo abandonado, onde arranjam figurinos estranhos, mas que servem perfeitamente ao propósito de manter um clima de fantasia na história.
Contradizendo esse tom de fábula, os três heróis assaltam postos de gasolina ou lojas de conveniência na estrada, usando armas de brinquedo – um comportamento que vai colocá-los na mira da lei, tornando-os alvo da caçada de dois policiais um tanto atrapalhados, Portuga (Rui Unas) e Souza (Deto Montenegro).
Ariel Goldenberg em cena do filme ‘Colegas’ (Foto: Divulgação)
Desafiando o perigo, os três amigos seguem viagem, em busca de realizar seus sonhos: o de Stallone, ver o mar; o de Márcio, voar; o de Aninha, casar.
O grande problema de “Colegas” é uma indefinição mal-conduzida, entre a fábula e a denúncia social; entre o drama e a comédia, entre um filme infantil ou adulto. Nem mesmo sua época é precisada, podendo-se com razão questionar em que período se passa tudo isto – um detalhe que contribui para uma perda de credibilidade.
Usando seus carismáticos atores como escudo, o tempo todo o filme de Marcelo Galvão pede que a plateia suspenda seu criticismo e se deixe levar – o que, em alguns momentos, pode ser sentido como uma espécie de chantagem emocional.
Independentemente de tudo, “Colegas” vem colecionando prêmios por onde passa, começando pelo Festival de Gramado 2012 (melhor filme, direção de arte e especial do júri para os três protagonistas), Mostra de São Paulo (Prêmio do Público) e Festival do Cinema Latino-Americano de Trieste, Itália.
G1