O tempo mostra, muitas vezes, que boas ideias podem suplantar o seu propósito original. É o caso das Oficinas Abrigadas de Trabalho (OAT), surgidas ainda na década de 80 em Volta Redonda e que, após várias adaptações, se transformaram no CAPD (Centro de Atendimento à Pessoa com Deficiência), que ampliou as ações das OAT e centraliza atualmente a assistência às pessoas com deficiência no município na sede da instituição, no bairro Jardim Paraíba.
Segundo a gerente do CAPD, Elizabeth Melo Silveira do Santos, o Centro atende a pessoas com deficiência física, intelectual, auditiva ou com múltiplas deficiências. São cerca de 300 atendimentos mensais, com o indivíduo comparecendo à instituição dependendo da sua necessidade ou disponibilidade: a pessoa com deficiência pode tanto ir ao CAPD a cada 15 dias, uma vez por semana, por meio período ou diariamente, entre 8h e 16h30.
Elizabeth disse que o Centro é procurado pelos familiares do indivíduo ou recomendado por outra instituição, e que existe até mesmo uma fila de espera para novas inserções – o que faz com que o CAPD estudar a ampliação das instalações.
– Nós entrevistamos os familiares e o próprio indivíduo para saber melhor a seu respeito, e também fazemos testes com ele para perceber qual o setor em que a pessoa melhor se adapta, mas com o tempo promovemos o rodízio nas atividades, sendo o artesanato a última fase – explica. – No início também buscamos integrá-lo ao grupo, se adaptar ao funcionamento da instituição. É preciso ver também qual o grau de autonomia e independência ele tem.
A instituição oferece diversas atividades para os portadores de deficiências. Só as Oficinas Abrigadas de Trabalho contam com 108 pessoas, enquanto o Centro de Informática atende a 140 indivíduos. Eles são divididos de acordo com a capacidade de cada um em usar os computadores, chegando a produzir um jornal semestral de circulação interna e que também é repassado aos familiares.
– Temos também a Oficina de Música que, além do coral com os alunos, já está promovendo a composição de músicas inéditas que vão ser gravadas em um CD – adiantou Elizabeth, lembrando que o CAPD tem ainda uma turma de 40 jovens no curso de bombeiros mirins, que vão se formar em dezembro.
Outra atividade que deixa os atendidos pelo Centro animados é a Olimpede, o maior evento esportivo do país para pessoas com deficiência:
– Levamos 68 atletas este ano para a competição, e eles ficam realmente felizes. É uma oportunidade de superação, eles valorizam a oportunidade de conquistarem as medalhas. Eles treinam com muita dedicação.
Autonomia
Mas o Centro busca não apenas desenvolver as habilidades artísticas, motoras ou intelectuais dos alunos: o desenvolvimento da independência e da autonomia é importante dentro da instituição.
– Nós temos a Cozinha Experimental, onde os jovens com problemas de dependência aprendem coisas simples como preparar o próprio alimento. É preciso ensinar a alguns as atividades da vida prática, pois o dia a dia numa casa é corrido e nem sempre o familiar pode explicar essas pequenas ações. Procuramos orientar nessas atividades cotidianas, como arrumar a cama de manhã – disse. – Percebemos o crescimento do indivíduo dentro do CAPD e a família também, o que faz que não tenhamos problema de evasão. A própria família estimula a pessoa com deficiência a continuar, e eles mesmos são muito animados, mesmo quando a atividade não é nova. Percebemos neles a dedicação em continuar.
Dentro desse contexto, o Centro sempre promove reuniões de orientação familiar, quando chama os parentes e usuários da instituição para a discussão de temas pontuais como sexualidade, higiene, independência, autonomia e inserção no mercado de trabalho.
– Procuramos orientar os familiares a verem que seus parentes podem ter sua individualidade, e que eles podem ajudar nisso – destacou.
Arte em exposição
O CAPD – que é ligado à Secretaria Municipal de ação Comunitária (Smac) – promove todo ano, no mês de agosto, a exposição dos trabalhos dos alunos no Espaço Zélia Arbex, na Vila Santa Cecília. São peças de cerâmica, mosaicos e outras peças de artesanato que são produzidas desde o início do ano por eles, além das encomendas recebidas durante os outros meses, principalmente por órgãos do governo municipal. As peças que não são vendidas na exposição podem ser adquiridas na sede da instituição.
– Os convites que recebemos para participar de outras exposições simbolizam a qualidade do trabalho feito por eles – elogia.
Emprego que leva à autoestima
A pessoa com deficiência que participa das atividades do CAPD recebe da Smac uma bolsa-aprendizado, que tem o objetivo de estimular a freqüência dos usuários. Essa, porém, não vem sendo a única forma de estímulo dentro da instituição, conforme explica a gerente do Centro:
– O CAPD vem auxiliando os indivíduos na inserção no mercado de trabalho. Empresas de grande porte como a Odebrecht e a CSN têm nos procurado para contratar pessoas com deficiências, e também outras de pequeno porte. A gente vê que quando ele volta está diferente, com uma maior autoconfiança e autoestima. Ficamos satisfeitos com os resultados, porque ajuda a promover também a cidadania – declarou.
Um dos mais animados a conseguir uma ocupação remunerada dentro do mercado de trabalho é Everton Carlos da Silva, de 32 anos, que está há dez anos no CAPD. Ele foi encaminhado por um tio após o falecimento da mãe, e disse gostar de todas as atividades realizadas na instituição – e que se sente confiante para realizar diversas tarefas.
– Muita gente não dá valor para quem possui alguma deficiência, mas no fundo todo mundo tem [um tipo de deficiência]. Recebemos visitas de pessoas que querem conhecer nossos trabalhos e ficam encantados. Agora eu sei que posso fazer e conseguir, mesmo que não seja perfeito. Aos poucos vamos melhorando – garantiu. – Hoje eu consigo ser mais independente e autônomo. Lá fora eu sei que tenho de me virar sozinho, ser mais responsável. Estou realmente animado para conseguir um emprego.
Júlio Black
Volta Redonda
Fonte: Diario do Vale