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Professoras de escola no Distrito Federal trabalham com inclusão de alunos surdos

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Muitos deles realizaram o sonho de entrar para o ensino superior e conseguiram vagas no mercado de trabalho

O fim do semestre foi especial para os estudantes com deficiência auditiva do Centro de Ensino Médio 1 do Núcleo Bandeirante. Depois de cinco ensaios, apresentaram aos demais alunos do colégio a peça A princesa cisne em um teatro de fantoches. Enquanto uma professora narrava a história, outra fazia a tradução para a língua de sinais. A apresentação é novidade, mas o trabalho com a turma especial de surdos já é feito há mais de 20 anos e representa um dos principais exemplos de inclusão na rede pública de ensino do Distrito Federal.

A turma especial do CEM 1 do Núcleo Bandeirante conta com 21 alunos com deficiência auditiva. Eles vêm de diferentes regiões do DF e do Entorno, como São Sebastião, Brazlândia, Gama, Valparaíso e Santo Antônio do Descoberto, para contar com apoio de professores que dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Regiane Rodrigues, 26 anos, vem de Santa Maria para cursar o ensino médio no colégio. Ela passou por diversas escolas antes de encontrar uma que tivesse atenção exclusiva para pessoas com esse tipo de deficiência. O objetivo da jovem é se tornar aeromoça ou estudar artes cênicas depois de concluir a educação básica. Esse foi um dos motivos pelos quais a experiência de apresentar uma peça na escola foi marcante. Ao definir o que a participação na peça representou, Regiane leva as mãos ao peito, em sinal de carinho.

A professora de artes Maristela Papa, 45 anos, foi quem dirigiu a peça de teatro apresentada pelos estudantes surdos. “Foi uma experiência única, porque, por meio da arte, nos comunicamos de outra forma”, afirma. O trabalho foi interdisciplinar. Nas aulas de artes, além dos ensaios, foram elaborados desenhos com as diversas fases da história a ser apresentada. Os conteúdos de ciências humanas também abordaram temas que apareciam na peça. Na aula de filosofia, por exemplo, foi abordada a oposição entre o bem e o mal.

Desafio

Todo esse processo de ensino e inclusão só é possível graças à dedicação de três professoras apaixonadas pelo que fazem. A de linguagens, Edna Cristina Martins Luza, 44 anos, desenvolve o trabalho com estudantes surdos na escola há 21 anos. Kenia Madoz, 47, de ciências humanas, começou a formação voltada para esse tipo de ensino há 17 anos. Já Sônia Coelho, professora de ciências exatas, encantou-se pelo ensino especial e pela comunicação em Libras em 2005, depois de dar aulas para duas alunas surdas.

Para Sônia, o aprendizado de Libras foi mais rápido, já que a língua já era reconhecida oficialmente e ensinada no país. Edna e Kenia, por sua vez, começaram a dar aulas sem dominar a linguagem de sinais e, inicialmente, passavam o conteúdo para os estudantes com a chamada comunicação total. “Quem nos ensinou os primeiros sinais foram os alunos”, conta Edna.

Em sala de aula, a língua brasileira de sinais é a principal forma de comunicação para ensinar o conteúdo, mas não é obrigatório que os alunos dominem o código. Os que ainda não sabem ou conhecem poucos sinais, aprendem por meio da interação com os colegas e professores. “É uma língua natural, eles aprendem conversando”, destaca Edna. Até mesmo alguns estudantes ouvintes se interessam em aprender Libras. Nesse caso, são os próprios alunos da classe especial que se tornam professores e ajudam os colegas a entender e a se comunicar na linguagem deles. Todos os anos as professoras organizam oficinas de Libras para esse fim.

Manter a turma especial não é fácil, e as professoras destacam que o apoio da Coordenação Regional é essencial. A Secretaria de Educação do DF (SEDF) mantém classes como esta, exclusivas para deficientes auditivos, nas 14 Coordenações Regionais de Ensino. No entanto, muitos dos alunos com necessidades especiais acabam alocados em turmas regulares, chamadas inclusivas, que têm o número de estudantes reduzido para recebê-los. Mesmo assim, as docentes do Núcleo Bandeirante defendem a atenção mais direcionada aos estudantes surdos dada na sala exclusiva. “A inclusão só funciona se o aluno com deficiência auditiva deseja e se sente bem com isso. Mas, muitas vezes, eles se sentem excluídos e até abandonam a escola”, relata Kenia.

Orgulho

O resultado do esforço para manter a turma especial e do trabalho diário desenvolvido com os alunos traz alegria e satisfação para as professoras. “É uma troca, porque, ao mesmo tempo que ensinamos, também aprendemos com eles”, relata Sônia. Muitos dos alunos que passaram pela escola já estão no mercado de trabalho. Um deles foi o primeiro aluno com deficiência auditiva a se formar no mestrado em educação da Universidade de Brasília (UnB). “Se eu tiver que sair do ensino especial precisarei fazer outra faculdade, porque acho que nem sei mais trabalhar no ensino regular. Isso se tornou minha vida. Quando comecei a conviver com eles, eu me apaixonei”, conta Edna.

Definido em lei

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a utilizada por deficientes auditivos para se comunicar entre eles e com ouvintes. Em 2002, foi reconhecida por meio da lei nº 10.436 como meio legal de comunicação e expressão no país. Assim como qualquer outra, tem estruturas morfológica, sintática e semântica próprias.

Ao alcance de todos
A comunicação total é um método que combina sinais, fala, leitura labial e treino auditivo. Ela valoriza a comunicação e a interação, e não apenas o aprendizado de uma língua. Era a forma de comunicação usada pelas professoras há 20 anos, antes de a língua de sinais ser
oficializada no país.

Fonte: diariodepernambuco.com.br

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