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Brasileiro com deficiência auditiva é finalista em concurso de empreendorismo

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Thierry Marcondes tem 25 anos e um currículo de fazer inveja a muita gente experiente. Estudante de engenharia mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele já morou na Inglaterra e no México, se envolveu com projetos internacionais na área de meio ambiente, petróleo e carbono, foi estagiário da GE Energy e é o CEO da startup Gloriosos, representante brasileira na última etapa do Desafio Intel 2013, uma competição de soluções tecnológicas, da qual participam startups, que acontece em outubro nos Estados Unidos. Marcondes fala inglês, um pouco de espanhol e francês. E, além de todo o empenho acadêmico, o jovem também sabe cozinhar, bordar e tocar trompete.

Seria a história de mais um prodígio não fosse por um detalhe que torna o caso de Marcondes exceção: ele nasceu com surdez profunda. Então, pegue todo o esforço que você imaginou ali no início do texto e multiplique por algum número bem alto. Se ter sucesso já é difícil para quem tem os cinco sentidos tinindo, imagine quando falta um deles – especialmente em um mundo ainda pouco adaptado a deficiências. Ele reconhece mesmo que deu trabalho chegar aos 25 anos com toda essa experiência, fazendo leitura labial e sem conseguir falar ao telefone, mas faz questão de trocar a palavra “dificuldade” por outras, como “desafio” ou “aventura”, quando fala sobre sua vida.

As aventuras começaram cedo na vida do estudante. Aos 11 anos, ele se mudou para a Inglaterra, quando sua mãe foi fazer uma pós-graduação em uma universidade do país. Na época, Marcondes sabia fazer leitura labial em português – o que já era uma vitória – mas teve de estudar tudo de novo, dessa vez, em inglês. Com a ajuda de uma professora canadense, ele aprendeu a entender e a falar não só o próprio inglês, mas também um pouco de espanhol e francês. “Foi um dos períodos mais incríveis que vivi. Aprendi também a cozinhar, a bordar, a tocar trompete. Cheguei até a tocar na orquestra de natal da escola no final do ano. Considero uma grande conquista, já que tiver de bolar estratégias para aprender a tocar pela vibração do instrumento”.

Foi também na Inglaterra que o futuro engenheiro diz ter descoberto sua vocação. “Ficava até depois das aulas fazendo trabalhos de tecnologia, de projetos. Montava alguns objetos para suprir minhas necessidades. Se queria um carrinho para brincar, por exemplo, eu montava um. Isso foi despertando o meu interesse por tecnologia e construindo a minha curiosidade pela engenharia”.

Assim, de volta ao Brasil, não é de se estranhar que ele tenha optado pelo curso de engenharia mecânica. Entrou na Unicamp, em 2007. No início da faculdade, se envolveu em diversos projetos, indo de tecnologia aeronáutica até a área ambiental. Fez inclusive um intercâmbio para o México, onde aprofundou seus conhecimentos em sustentabilidade. Em 2012 (ele adiou a formatura alguns semestres para aproveitar melhor a universidade), ele montou a equipe da startup Gloriosos e participou do Desafio Unicamp daquele mesmo ano. Venceram a disputa com o projeto do Lux Sensor do Brasil, o mesmo a concorrer no Desafio Intel, um sensor de alta sensibilidade para detecção de combustível adulterado.

Na etapa da América Latina, o sistema ganhou o tenceiro lugar, atrás de projetos da Venezuela e do Chile. A pontuação foi suficiente para que o grupo de Marcondes entrasse na competição mundial, que ocorre em outubro, em Berkeley. Ao lado de outras 30 startups, a Gloriosos concorre a um prêmio de US$ 100 mil.

“O projeto do Thierry é muito bom. Os juízes acreditaram que o projeto dele tem muito potencial, mas a gente não sabe como são os outros, não dá para dizer quais são as chances de o Lux Sensor ganhar”, diz Rubem Saldanha, gerente de educação da Intel Brasil. Para o executivo, no entanto, essa etapa final é apenas a cereja do bolo de um processo já bastante enriquecedor. “O Thierry ganhar ou não ganhar não é o mais importante. O que importa é o efeito que ele cria quando volta: as conversas que ele vai ter com seus amigos, as experiências que ele vai passar para as outras pessoas. Isso dissemina a cultura do empreendedorismo”.

Para Marcondes, que passa a impressão de ser dessas pessoas que está sempre se desafiando, não é muito diferente. “Vejo que, a cada dia, venho descobrindo coisas novas, aprendendo coisas novas e superando obstáculos pessoais, profissionais e até aqueles referentes à minha necessidade especial. Estou bastante orgulhoso da equipe e até onde conseguimos chegar”.

Nesse processo todo, o estudante afirma que a deficiência auditiva não foi muito mais do que um “desafio interessante”. “Precisei enfrentar algumas situações. Por exemplo, todas as reuniões tinham de ser presenciais, pois não consigo falar ao telefone. Ao mesmo tempo, percebi que era preciso ter confiança nos sócios era essencial. Vi que era necessário unir forças e sempre trabalhar com pessoas que me complementem”.

 

Época Negócios

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